A necessidade de obter melhores resultados tem levado muitos formadores e professores a deixarem de lado os modelos de formação ou de aulas 100% expositivas para dar um maior peso aos métodos mais participativos, levando os seus alunos ou formandos a participar em diversos tipos de atividades com a ajuda de diversas técnicas e modelos de intervenção.
Se as organizações vão levar os seus colaboradores a gastar tempo e dinheiro para fazer um curso de formação, elas necessitam ver como essas ações irão melhorar as suas habilidades e aumentar a sua base de conhecimento e profissionalização.
Nos dias de hoje, a formação deve fornecer soluções práticas aplicáveis aos contextos organizacionais dos participantes. Por exemplo, uma empresa que oferece formação de vendas para um novo produto pode primeiro mostrar a todos como usar o produto corretamente e depois permitir que os participantes o testem em situações simuladas e finalmente partilhar experiências numa actividade em grupo para consensuar o melhor argumentário de vendas para o produto.
Os formadores 'facilitadores' sabem que maioria das pessoas retém a informação de maneira mais completa e por um período mais longo, quando pode interagir com materiais que ajudam a interiorizar conhecimentos de uma forma experiencial e a refletir de forma individual e em grupo.
Algumas formas de manter participantes adultos envolvidos incluem uma combinação dos seguintes métodos:
- Atividades e discussões em grupo
- Interpretação de papéis (Role Playing)
- Exemplos e cenários da vida real
Neste artigo, iremos centrar-nos no primeiro destes três métodos -
Atividades e discussões em grupo. Para saber mais sobre como os métodos e técnicas de formação de adultos podem melhorar os seus programas de formação, este artigo
aqui pode ser útil.
Uma das formas mais adotadas para gerar maior participação e envolvimento em ações de formação são as atividades e discussões em grupo. Existem várias formas de implementar estas atividades numa sessão de formação e, menos frequentemente, também no ensino. Por comodidade, irei divida-las em 2 tipos:
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Atividades orgânicas: que podem ser realizadas sem a ajuda de qualquer elemento físico que não seja a disposição geométrica da sala. Por exemplo, no final de uma exposição o formador pede aos alunos para refletirem individualmente por 2 minutos e depois partilhar com o colega do lado as questões que desejam colocar, pedindo em seguida para reunir em grupos de 4 ou 6 e tentar responder às questoes entre si e, no final, partilharem apenas as questões que ficaram sem resposta. Para saber mais sobre este tipo de atividades poderá consultar o site
Liberating Structures com vários exemplos de atividades aplicáveis na formação de adultos ou no ensino participativo e este excelente artigo em português do Fernando Murray Loureiro (igualmente referenciado no volume 2 do livro "Arquitetar a Colaboração"):
Estruturas Libertadoras, Um novo caminho na facilitação de grupos.
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Actividades mecânicas: aquelas que carecem de um elemento físico para serem realizadas, são os chamados "serious games" ou jogos sérios, existindo no mercado um conjunto de empresas que oferecem soluções a preços diversos, como é o caso da
METALOG® um dos mais tradicionais e mais recentemente a empresa LEGO® que criou o seu próprio método através do
Lego Serious Play®.
Mas os "serious games" podem ter aplicações que vão mais além da formação, e serem usados em atividades de acolhimento de novos colaboradores (onboarding) e até mesmo na gestão de inovação (concursos de ideias) Os produtos da empresa
Serious Game
Interactive são disso um exemplo.
O enorme sucesso da aplicação destes métodos de formação de adultos nas empresas, tem vindo a ser aproveitado pelas direções de inovação e qualidade das empresas para tirar mais partido das ações de formação interna por parte dos seus colaboradores para que estes possam assimilar novos valores que mudem as suas atitudes face ao trabalho, face ao relacionamento com os colegas e com a empresa, criando assim um ambiente de trabalho mais produtivo.
Para além do METALOG® e do LEGO® SERIOUS PLAY® existem várias abordagens dentro desta categoria de 'atividades mecânicas' ou não orgânicas, que se têm vindo a especializar cada vez mais no apoio às necessidades das direções de recursos humanos das empresas no contexto mais amplo do desenvolvimento organizacional (em inglês
OD) e da gestão da mudança.
E não apenas as grandes ou médias empresas, também as pequenas empresas têm vindo a conhecer os benefícios de uma abordagem com Serious Games que podem ajudar a estruturar atividades essenciais como seja o desenvolvimento de um plano de inovação e gestão estratégica através de jogos como
Innovate or Dinosaurs® da empresa Action Strategies (ver vídeo abaixo), por exemplo.
Sempre que uma ação de formação ou uma aula incluem métodos participativos e atividades em grupo, é evidente que o formador ou professor deixa momentaneamente o seu papel de preletor e assume um novo papel - o de facilitador de processos de aprendizagem.
Neste caso a turma de ensino ou formação converte-se naquilo que eu já designei num
artigo anterior por um "Learning Group" ou Grupo de Aprendizagem.
Qual é a diferença de participar numa sessão de formação tradicional em que os participantes tentam alcançar conhecimentos individualmente ou fazer parte de uma sessão de formação em que os participantes são membros de um 'grupo de aprendizagem' com o objetivo de alcançar o conhecimento mas como um grupo, numa soma maior que é sempre maior que todas as partes? Uma diferença dramática ocorre. Estou certo de que a maioria dos meus leitores poderá testemunhar isso por si mesmos quando participam neste tipo de sessões facilitadas.
Definitivamente, os princípios básicos da facilitação de grupo podem ser aplicados com vantagem por qualquer pessoa encarregada de transmitir formalmente o conhecimento a um grupo de adultos. Mas isso não significa que por empregar os princípios e técnicas da facilitação de grupos, seja necessariamente um facilitador profissional.
O emprego da facilitação de grupos de um modo profissional pode começar efetivamente no âmbito da formação a partir do desenho de sessões concebidas para 'mudar mentalidades' ou 'criar equipas mais coesas' num contexto formativo. Mas os facilitadores de grupo profissionais ampliam a sua atuação em contextos mais amplos de desenvolvimento organizacional, gestão de inovação e da mudança e até da transformação social, com o foco na decisão em grupo e não apenas na aprendizagem e "coaching" de grupo.
Para a maioria das 'actividades mecânicas' realizadas em grupo, os respetivos fornecedores de equipamentos desenvolvem programas de formação e certificação para que os formadores que empreguem esses materiais tenham um conjunto de conhecimentos profissionalizados sobre os mesmos.
Nesse contexto, tanto o METALOG®, o LEGO® SERIOUS PLAY® ou o INNOVATE OR DINOSAUR® são serviços de consultoria oferecido por um facilitador certificado pelas respectivas empresas. Seu objetivo é promover o pensamento criativo por meio de metáforas (ou uso de peças de LEGO®) para a criação de cenários que são usados para criar um paralelismo com as experiências organizacionais e gerar uma aprendizagem coletiva.
As abordagens de 'Serious Games' são um processo experiencial, concebido para fomentar a inovação e o desempenho da equipa, usados tanto em contexto universitários (ver este interessante artigo com o
caso do LEGO) como nas empresas e entidades sem fins lucrativos.
Este excelente
artigo da Barbara MacKay
expõe as 5 principais dimensões em que a formação se diferencia da facilitação e que resumo aqui:
Formação vs. Facilitação
aprendizagem vs. pensamento
hierárquico vs. colaborativo
aplicar vs. comunicar
linear vs. flexível
longo prazo vs. imediato
A IAF (
International Association of Facilitators) é a maior associação do mundo de facilitadores e acolhe no seu seio vários profissionais que se dedicam à facilitação com LEGO® SERIOUS PLAY® como é o caso em Portugal da
Ana Umbelino
e da
Rita Pelica.
Spark of Creativity
é o nome de um projeto realizado na ROCHE com o jogo INNOVATE OR DINOSAUR® recebeu a distinção Platina dos prémios "Facilitation Impact Awards" em 2018, com a participação da
Tamara Eberle, Facilitadora Profissional Certificada (CPF) pela IAF. No caso do METALOG® o nosso colega
Gian Carlo Manzoni
(CPF), tem usado estes métodos em inúmeros projetos no sector financeiro italiano, entre outros.
Finalmente, se pretende saber mais sobre como os métodos e técnicas de formação de adultos podem melhorar os seus programas de formação em Portugal o
Jorge Bicho
formador, coach e facilitador associado na IAF poderá dar-lhe bons conselhos práticos.
Em resumo, a formação e o ensino enfrentam hoje desafios que levam a abordagens cada vez mais afastadas dos métodos expositivos. Os formadores de sucesso procuram dar aos seus alunos e formandos uma experiência de aprendizagem mais interativa e participativa. As atividades em grupo são um elemento importante nesta estratégia. Neste contexto o formador adopta cada vez mais o papel de 'facilitador' e a sua profissionalização poderá ser útil no caso de pretender alargar os seus horizontes de atuação.
Para além dos contextos de formação e aprendizagem, os formadores que aplicam Serious Games em processos de mudança e desenvolvimento organizacional, desenvolvem um conjunto de experiências e conhecimentos profissionais que os convertem mais em 'facilitadores' do que em 'formadores'. De igual modo no ensino, um docente também se poderá converter num facilitador de processos de aprendizagem.
Mas o papel de um facilitador profissional
transcende o simples emprego de uma determinado metodología de Serious Game ou uma determinada atividade 'orgânica' como as que são propostas pelas Liberating Structures
e que vimos mais acima.
Um facilitador profissional adopta as
6 competências básicas da facilitação
e sabe desenhar qualquer tipo de intervenção que conduz ao aproveitamento da inteligência coletiva num grupo e em qualquer contexto.
A
Associação Internacional de Facilitadores
(IAF) é uma organização participativa com membros em mais de 65 países. Como associação profissional, estabelecemos padrões profissionais internacionalmente reconhecidos, fornecemos acreditação de competências através dos diferentes níveis de certificação, apoiamos uma comunidade de prática, advogamos e educamos sobre o poder da facilitação. O 'chapter' em Portugal é liderado pela
Teresa Peres
e no Brasil pelo
Fernando Murray Loureiro. Para mais informações ou encontrar um facilitador certificado perto de si
aqui.